Por José Carlos Castro Sanches
“Sob Minha Cabeça, existe uma antena a qual capta todos os pensares. ” (Linartt Vieira)
O que este homem hoje com 86 anos
diz, ainda continua sendo para mim, inspiração e objeto de reflexão – por mais
singela que seja a referência ou citação sempre traz consigo verdades que
traduzem a evolução da tecnologia e a importância positiva ou nefasta do
marketing e propaganda que ditam o que devemos vestir, comer, beber e comprar.
Senão vejamos.
“A filosofia por trás de muita propaganda é baseada na velha observação de que todo homem é na realidade dois homens — o homem que ele é e o homem que ele quer ser.” (William Feather)
Escutei as suas palavras sábias ao dizer que a propaganda fez com que muitos dos seus itens de venda, ficassem parados nas prateleiras ou pendurados ao teto do seu aconchegante comércio. Passam anos e alguns produtos caem no desuso e, viram enfeites pendurados ou amostras nas prateleiras, como os quadros de famosos pintores, obras de grandes escultores e livros de renomados escritores nos museus, palácios e bibliotecas.
“Nossa mente é como uma antena, capta o que estamos sintonizando; o bem
ou o mal. Depende de nós mudar a frequência. ” (Chico Xavier)
A conexão exemplar que o meu pai fez da propaganda com a venda é extraordinária. Ele disse que a propaganda faz com que as pessoas queiram comprar apenas “antenas digitais” que em média custam, o dobro das antenas convencionais e, talvez não sejam tão eficientes, na transmissão. Os cabos mais antigos para instalação das TVs não se vendem mais, porque dizem que devem ser cabos para SKY, segundo ele.
“Se eu tivesse um único dólar, investiria em propaganda. ” (Henry Ford)
Certamente essa linguagem que hoje escuto, não era a mesma da minha infância. Tudo indica que a evolução também chegou na escrita, na leitura e na linguagem do meu pai. Esse é o lado bom da tecnologia, das mídias sociais e meios de comunicação em massa que não apenas escravizam, mas também elevam o conhecimento e desenvolvem pessoas humildes e cultas.
“Compreensão é frequência sincronizada. Somos como uma antena, só compreendemos o que conseguimos sintonizar. ” (Vanessa Coelho)
Quando eu estava com ele no comércio
chegou um cadeirante, com uma mercadoria comprada no sábado de carnaval, para
que ele fizesse a troca, porque segundo o cliente, o cabo era de diâmetro
superior ao desejado.
O meu querido pai, recebeu o cabo da
mão do cliente à porta do comércio, conferiu as medidas, a especificação e
devolveu o dinheiro, porque não tinha outro cabo de diâmetro inferior para
fazer a troca. Conforme o cliente exigia. Seguia integralmente a premissa de
que o cliente sempre tem razão.
Logo, notei o quanto o meu pai evoluiu nesse quesito, porque no passado não trocava nada do que vendia, exceto, com muita reclamação ou justo convencimento da minha mãe ou de um dos seus familiares que se encontrassem no momento a auxiliá-lo durante as vendas no comércio. Não era fácil convencer o meu pai para realizar uma troca de mercadoria vendida.
“Resiliência é a criatividade de conseguir manter-se bem, mesmo, estando
em condições que você poderia estar mal. ” (Nayara de Melo)
Ele me disse o quanto a propaganda pode influenciar numa compra: “a propaganda faz as pessoas comprarem até o que não presta” e as mercadorias de melhor qualidade, ficam mofando nas prateleiras e depósitos.
Esse é o poder danoso da mídia, dos
meios de comunicação, pobres e ricos caem na cilada da propaganda de produtos
que não têm a qualidade requerida, muitas vezes a preços elevados, mas o que
vale é o marketing, não o produto.
Não adianta reclamar desde os
medicamentos até os produtos de limpeza, quem vende mais é aquele que alimenta
os rádios, TVs e mídias sociais com um marketing diferenciado. O resto é
apenas, ilusão meu querido pai.
“A mente é algo assim como uma antena, tanto pode captar o bem como o mal. Apenas depende como vamos usar essas frequências. ” (Swami Paatra Shankara)
Fiquei impassível, centrado e
emocionado imaginando quantas vezes, o meu pai, durante a sua vida de
comerciante, trocou mercadorias, ainda que contrariado, para satisfazer os
clientes.
O que ele tem suportado nesta trajetória de vida para o sustento próprio e da sua família – um guerreiro indomável que nunca se rende às dificuldades e desafios – um exemplo a ser seguido.
Eu continuava organizando as ideias
para contar um pouco mais dessa memorável experiência quando a “campainha”
tocou e a minha mãe logo correu até a porta com alegria para receber os
visitantes que chegavam à sua casa, a comitiva era formada por Rafaelle (minha
filha primogênita), meu neto Rafael, meu genro Erlandson, minha esposa Socorro,
que visitavam os meus pais – alegria geral. A inspiração cessou e parei para
atendê-los, depois retomei apenas para esclarecer um pequeno ponto esquecido.
Enquanto o meu pai recolhia o fio devolvido num saco plástico e o colocava numa caixa de papelão, a minha querida e amada mãe chegou ao seu lado e perguntou: “Para quem você está arrumando esse cabo? ” Continuou ela: “Se não tem nenhum comprador no comércio deve ser para Zequinha” (como sou chamado por meus pais e familiares).
Disse a ela, não é para mim mãe, foi
uma devolução. Ela concluiu com a pergunta final para o meu pai: “ Você
devolveu o dinheiro ou trocou por outra mercadoria? ” Disse ele: Devolvi o
dinheiro, e ainda recebi a peça com a metragem inferior – vendi 10 metros e
recebi um pouco menos.
O que poderia ser motivo de
desmotivação ou irritação foi motivo de incentivo para que o meu pai se
movimentasse e arrumasse a mercadoria para o próximo cliente. Isso significa
alta capacidade de resiliência que tanto lemos nos livros de liderança,
motivação e autoajuda, e que ele pratica apesar da dificuldade de leitura e de
ter lido poucos livros.
A leitura de inúmeros jornais e as incontáveis horas de telejornais, e milhões de experiências e conhecimentos adquiridos por meio da sua longa jornada de trabalho árduo e dedicação à família fizeram dele um especialista em percepção das coisas e um observador nato das coisas da vida. Seria ele um autodidata?
“Para o bem ou para o mal, suas palavras são a sua propaganda. Todas as vezes que abre a boca, você revela o que existe em sua mente. ” (Bruce Barton)
Na sua simplicidade e humildade,
ainda que, com baixa escolaridade. O meu pai continua sendo a minha referência
e espelho em que busco refletir.
Cada dia aprendo mais com o meu velho
amigo. E com a minha querida e amada mãe. Parceira, cúmplice e mulher virtuosa,
sempre ao seu lado, dia e noite, superando desafios e nos ensinando a estar
acima das adversidades com paciência e bravura. Amo vocês!
Mais uma vez, estava encerrando esta crônica quando chegaram os meus irmãos Carlos Henrique e Josete, e cunhados Sandra e Jonas. Desta vez, definitivamente parei de escrever para compartilhar daquele momento único e especial com os meus familiares. Afinal, a família é o maior patrimônio de um homem.
O carnaval continua e as surpresas se sucedem ao vivo e através das antenas de TV. Com marketing ou sem ele, o comércio flui, a esperança se renova e a vida continua. E eu escrevo para passar o tempo, registrar os fatos e deixar a nossa história para a posteridade. Sintonizando o universo com a antena do meu coração. Viva a vida!
“Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena – e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo. ” (Monteiro Lobato)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor,
cronista e poeta maranhense.
São Luís, 04 de março de 2019.
Revisado em 29/04/2020
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