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O retrato da Rua Grande



   


“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...” (Mário Quintana)
         
Que cidade linda! Essa nossa cidade de São Luís parece outro lugar distante quando vista pelas fotografias. Sem a gente sofrida. Sem aprofundar a ferida.

Oh, cidade maravilhosa berço magistral do verbo perfeito, da literatura, da arte, da magia, outrora Atenas Brasileira. Hoje apenas brasileira.

Das ruas os paralelepípedos pedantes escapam e, sobram os buracos.
Das belas fachadas dos Casarões e azulejos portugueses nascem ruínas e trepadeiras.
Das antigas ladeiras permanecem o subir e o descer, sem a pompa e a beleza dos calçadões imperiais.

Da cultura ainda subsistem o bumba-meu-boi, a quadrilha e o cacuriá...da tradição Maracanã, Maioba, Ribamar, Rosário, São Simão e boi de Axixá.
Do mar puro e natural sobram os dejetos dos humanos e animais a boiar.

Da ilha de Upaon Açu sobra o nome dos índios Tupinambás e a sombra dos Franceses, Holandeses e Portugueses.  

Do Palácio dos Leões os lustres, quadros, móveis, canhões, as pinturas e esculturas imponentes dos leões.

Dos grandes poetas os nomes das ruas e praças. Da Rua Grande o retrato e as lembranças das lojas fechadas
Esplanada, Ocapana, Mesbla...

E na minha memória sobram as lindas recordações dos passeios que eu fazia na Rua Grande com as minhas filhas
para comprar brinquedos na Briquedolândia.

Era tanta felicidade que até hoje quando passo naquela rua quero voltar ao passado para reviver os bons momentos com os meus familiares.

Naquele tempo a Rua Grande era lotada de transeuntes, curiosos, compradores, lojistas, vendedores ambulantes que faziam a freguesia misturada com a alegria.

Hoje as lojas estão fechadas e a rua está vazia, os camelôs se dispersaram devido a histeria.
Os lojistas e compradores confinados em suas casas com medo da pandemia.

Quem dera pudesse retroceder no tempo e contemplar a beleza secular daquela rua que carrego na memória
como parte da minha história. 

“A saudade é o que faz as coisas pararem no Tempo. ” (Mario Quintana)
                                                   
José Carlos Castro Sanches 
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.


São Luís, 01 de abril de 2020. 
                              
Visite o site falasanches.com e a página Fala, Sanches (Facebook). 
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