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A emblemática pescaria de choque

Estava visitando a timeline, no facebook, do competente fotógrafo carioca, Geraldo Kosinski, quando encontrei uma bela foto (imagem acima) de uma pescaria de choque, registrada por ele, no povoado Félix, município de Arari. Depois de dar um like e comentar, passei alguns minutos apreciando a maravilhosa imagem. Foi aí que decidi escrever este breve artigo falando sobre a singular pescaria de choque, muito praticada pelos pescadores da nossa região. Como gosto de falar das potencialidades do nosso Arari, inspirado nessa belíssima foto, escrevo, portanto, com o intuito de valorizar as coisas que nos são telúricas. A pescaria de choque é, como expus no título, emblemática, além de ser, digamos, endêmica da nossa rica Baixada. Particularmente, eu admiro bastante esse tipo de pescaria. Deixo claro que nunca pesquei usando o choque, falta-me coragem até, mas aprecio. Sempre que passo pelos campos ararienses e deparo-me com pessoas pescando com o choque, paro para observar e, reiterada vezes, registrar. 

Pescaria de choque. FOTO: Geraldo Kosinski


O choque, também chamado de socó, é um emblemático apetrecho de pesca inventado pelos índios. A pescaria de choque, como é conhecida pelos ararienses, consiste no ato de o pescador entrar na água (campo alagado ou lago) até a altura da perna ou da cintura, conforme a profundidade, segurando o choque pela parte de cima e em seguida mergulhando-o com firmeza, até tocar o fundo, fixando na lama ou lodo, para a captura de peixes. Depois, o pescador mete a mão pela abertura superior do cesto, que ficou fora d´água, e pega o pescado que, por ventura, tenha sido capturado. Só é possível pescar utilizando o choque a partir do abaixamento das águas, que aqui na região da Baixada Maranhense inicia de junho em diante. Geralmente a pescaria se estende durante todo o período estival.

O choque é um cesto cônico sem fundo nem tampa, de pouco menos de 1 m de altura, com diâmetro de abertura menor de 20 cm e a maior com o dobro dessa medida. É feito, comumente, com varas de marajá (Bactris brongniarti) mais larga na extremidade inferior, que tem ponta afiada, amarrada em torno de dois círculos, um menos, que forma a “boca” do apetrecho, e outro maior, que fica no meio, dando a forma cônica ao instrumento. As principais espécies capturadas com esse método de pesca são: Hoplerythrinus unitaeniatus (jeju), Hoplasternum littorale (tamatá), Hoplias malabaricus (traíra ou tarira, na linguagem local) e Heros severus (carambanja), por serem espécies endêmicas de regiões pantanosas, como a Baixada Maranhense.

Devido a engenhosidade do choque, pois a sua confecção requer muita habilidade, essa pescaria é uma das mais emblemáticas da nossa região. Todavia, é uma atividade perigosa, principalmente se for desenvolvida em um baixo, poção ou lago onde há piranhas (Pygocentrusnattereri), poraquê (Electricus Electrophorus) ou arraia (Potamotrygon motoro). Os exímios pescadores, sabem, por exemplo, quando há piranhas presas no choque. Segundo eles, quando uma piranha é capturada, ela morde as varas do instrumento, então, ergue-se o choque lentamente para que ela saia. 

Adenildo Bezerra

Adenildo Bezerra é arariense. Professor, é graduado em Matemática e especialista em Docência. É membro fundador e atual presidente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências (ALAC). É membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Arari (IHGA). Autor de três livros e participante de diversas coletâneas literárias. 


Facebook/adenildo25
Instagram: @ajcbezerra
E-mail: adenildo25@gmail.com






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