Por José Carlos Castro Sanches
“Engraçado! Ninguém quer ficar gripado da gripe
alheia, mas poucos se cuidam para evitar o contágio da estupidez coletiva. ” (Luiz Carlos Prates)
O espirro que antes era naturalmente
recebido e aceito em qualquer ambiente desde que mantido alguns cuidados e
atendida a etiqueta, passou a ser veementemente rejeitado, mesmo entre os
familiares e amigos.
Hoje enquanto caminhava passei próximo
a um condomínio e escutei dois espirros fortes de um homem que parecia querer
fazer com que o eco daquela maldição chegasse a todo o bairro, não sabia ele,
que eu estava passando lá embaixo, a mais de 100 metros de distância e me
preocupava com o ar daquele corpo expelido a uma velocidade que pode atingir
150 km por hora, além de poder viajar muito mais longe do que se possa imaginar.
Ao escutar o espirro eu disse, sem
mesmo conhecer o bendito homem: “que Deus te livre dessa doença maldita que
destrói sonhos e famílias”. Quantos amigos e colegas nestes dias de pandemia se
foram para junto do pai, vítimas do Covid-19 e das doenças oportunistas.
Lembro-me de RB, JS, ML, NC, JC, MS, A,
B, C, D e tantos outros que não posso contar, que foram precocemente
sequestrados pelo coronavírus. Eu queria ter o poder de parar a ação destes
microrganismos patogênicos para deixar em paz a humanidade e preservar a vida
dos humanos indefesos, inclusive a minha e dos meus familiares. Todos estamos
na mesma tempestade e somos vulneráveis. Isso tem me assustado bastante, talvez
mais que susto, pavor. Por isso temos seguido as recomendações no sentido de
preservar a saúde e a vida. Nesse momento percebemos de forma clara e
inequívoca que não temos nenhum controle sobre elas, senão a tentativa de preservá-la
pelos meios conhecidos. Mas, o vírus é invisível e foge ao nosso controle, eu
diria se fossem cascavéis, teríamos muito mais facilidade para detê-los.
Estamos na mão do Senhor e à espera das descobertas científicas para nos tirar
de encruzilhada entre a cruz e o punhal. Valha-nos Deus!
Não sendo possível debelar a ação
nefasta deste “indesejado coronavírus”, gostaria que todos tivessem direito a
um leito, ao remédio e ao tratamento adequado, sem manipulação política. E,
que, os profissionais da área médica fossem tratados com o respeito e dignidade
que merecem, sendo a eles oferecido os devidos Equipamentos de Proteção
Individual - EPI’s e a possibilidade de seguirem procedimentos seguros para
garantia de que estarão seguros, preservando a própria saúde e a vida.
“Quando os aristocratas tossem, o clero fica
gripado, e a plebe morre de pneumonia. ” (Gabriel Da'l Fabbro)
Voltando ao espirro – nesta semana ao
amanhecer num dia ensolarado, levantei e encontrei a minha neta deitada no sofá
– reclamando que sentia uma dor na barriga e garganta – então, eu e a minha
esposa nos aproximamos dela, que estava com a pele avermelhada (é branquinha) e
o corpo quente (porque havia levantado há poucos minutos), mas ao tocarmos nela
julgamos que estivesse com febre. Juntou-se a informação de barriga e garganta
doendo com a temperatura elevada – fiquei apavorado. E logo, me perguntei: será
que o coronavírus pegou a minha neta?
Pensei, tenho feito tudo para não sair
de casa, minha esposa e neta também, como ela pode ter sido acometida por esse
maldito vírus? A verdade é que o desespero bate à porta quando estamos diante
de um familiar, amigo, colega ou pessoa próxima abduzida pelo “vírus do
terror”.
Foi um corre-corre, liga para a mãe,
traz o termômetro, compra remédio para febre et cetera.
Graças a Deus que tudo não passou de
um susto e logo a garota estava correndo, pulando e comendo como se nada
tivesse acontecido. Porém, a mensagem já havia sido passada e a reflexão sobre
o ocorrido me fez escrever essa crônica para compartilhar com os leitores sobre
mais um aprendizado e lição de vida.
Valorize o presente, brinque com seus
netos e filhos, beije o seu cônjuge, pai e mãe, abrace os amigos. Curta
intensamente o presente, cada segundo vale horas junto às pessoas que amamos.
Na hora da dor, passa um filme que só
registra o que deveríamos ter feito para tornar o outro feliz. E o remorso: por
que não fiz isso ou aquilo? Nesse momento dinheiro e bens materiais, não têm
nenhum valor, o que vale é o amor, o carinho e o afeto.
Deixe de resmungar, reclamar de tudo e
de todos, faça um carinho a você mesmo, ajude o próximo, se solidarize com quem
está necessitando de apoio e recurso. Seja parceiro e cordial sem esperar nada
em troca, mesmo com aqueles que nunca demonstraram reciprocidade ou
desconhecidos, até com inimigos porque terá a oportunidade de refletir, perdoá-lo
e tornar-se seu melhor amigo.
"A melhor recompensa por uma boa ação não se
faz expressada aos olhos de todos, mas sim que é representada pelo sorriso de
quem recebeu". (Davi Belov)
Não quero causar pânico nas pessoas
portadoras do vírus, elas sabem que tendo a chance de identificar e serem
medicados serão curados. E outros simplesmente não apresentarão sintomas e
viverão normalmente. O problema não está neles está em mim, que ainda não
consegui superar o medo dessa doença traiçoeira e covarde que acomete crianças,
jovens, adultos e anciãos, e não se sabe como cada um reage diante dela. É
sempre uma incógnita, por isso se torna mais perigosa e indesejada, até porque
não existe hospitais e leitos para todos os doentes.
“Pessimismo é uma doença mais contagiosa do que a gripe. ” (Roberto Shinyashiki)
Sei também que essa história de
quarentena está ficando chata e não tenho encontrado outra forma de liberar a
energia e o pensamento negativo, senão escrevendo, lendo ou fazendo algo que
tire o foco do problema.
Nunca senti tanta falta do trabalho,
contato com os familiares e amigos como estou sentindo agora. Se Deus permitir que
todos saiamos bem dessa pandemia – vamos ter muito a comemorar, estejam certos
disso. No dia que descobrirem uma vacina e essa peste for aniquilada quero ter
a oportunidade de tocar foguetes, reunir a família para comemorar e valorizar
cada segundo ao lado das pessoas que amo, além da liberdade de ir e vir da qual
estou sendo privado.
Eu sei e você certamente também sabe
que espirrar é um mecanismo de defesa do corpo para expulsar invasores externos
e desconhecidos e proteger os pulmões e outros órgãos de contaminação, mas
nestes dias de pandemia parece que espirrar é doença. E o ato passou a ser
reprimido, ou quando exposto, odiado. Quero voltar a espirrar sem medo.
“Guardando-nos incontaminados do mundo temos a
vacina contra as más conversações e a gripe das trevas. ” (Helgir Girodo)
Dizem os especialistas que muitas
coisas podem desencadear espirros, incluindo resfriados comuns, alérgenos (como
o pólen pelos de animais), irritantes físicos (tais como o fumo ou poluição),
químicos (gases, névoas), partículas (poeira, mofo, bolor), ar frio ou luz
intensa, dentre outras causas. Deixe-nos espirrar de novo, a todo vapor, sem preconceito!
Não fosse esse “desgraçado do
coronavírus” poderíamos escutar os espirros e sem noção da sua perniciosidade
deixar as gotículas de spray do muco viajarem invisíveis com velocidade entre
cinco e 200 vezes superior às gotas individuais e continuarmos felizes. No
entanto, em nossos dias um espirro nos traz melancolia, tristeza e quando
associado a uma gripe, coriza, dor de cabeça e febre passa a ser um “terror”,
um verdadeiro inferno para muitos, para outros uma simples “gripezinha
inofensiva”. Cada um tem uma forma de reagir, conforme a imunidade do corpo.
“Não desejo essa gripe nem para o meu pior inimigo.
” (Tati Bernardi)
Senhor afasta de nós esse mal, leva
para bem longe da terra esse vírus, traz-nos a paz, a liberdade, infesta-nos de
saúde e vida abundante. É disso que precisamos, não de doença, sofrimento, dor,
perda e falta das pessoas amadas. Volta para o inferno “coronavírus”, lá é o
seu lugar. Aqui é lugar de bênçãos, não tem espaço para maldição. Chega de
histeria e morte por sua causa!
Quero voltar a assistir ao vivo os
espetáculos do Circo da Alegria, com as arquibancadas lotadas de pessoas
felizes, com o picadeiro cheio de artistas, trapezistas, mágicos, bailarinas,
equilibristas, malabaristas, acrobatas e, me divertir, dançar, cantar, pular e
sorrir com os palhaços Atchim & Espirro. Viva o circo! Use máscaras! Proteja-se contra
o Covid-19! Viva a vida!
“O sorriso é mais contagiante do que a gripe!!” (Vinicius Vighini)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor, cronista e poeta maranhense.
São Luís, 03 de maio de 2020.
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