FLORES SEM
PERFUME!
Por José
Carlos Castro Sanches
“Os mortos
recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a
gratidão. ” (O Diário de Anne Frank)
Hoje
escrevo sobre um tema pouco atrativo e quase sempre ignorado. Porém, verdadeiro
em sua essência embora muitos de nós preferíssemos manter distância dessa
realidade. Vale a pena concluir a leitura. Boa reflexão!
Digo de
antemão que não estou triste, depressivo ou alucinado. Ao contrário estou
alegre, equilibrado e lúcido. É que às vezes precisamos fugir do senso comum e
desafiar a mente para pensamentos contrários. Gramsci admitia que o "senso
comum" possuía um caroço de "bom senso", a partir do qual
poderia desenvolver o espírito crítico. É deste espirito crítico que me
aproprio para escrever esta crônica buscando levá-los a uma breve reflexão
sobre Flores sem perfume num buquê de flores atrasado.
“Quem
planta flores, planta beleza e perfumes para alguns dias. Quem planta árvores,
planta sombra e frutos por anos, talvez séculos. Mas quem planta ideias
verdadeiras, planta para a eternidade. ” (Desconhecido)
Bouquet ou
buquê são ramos de flores dispostos harmoniosamente normalmente oferecidos para
uma pessoa amada em datas especiais para demonstrar amor, paixão, carinho ou
afeto. Também pode ser usado nos momentos de tristeza para externar um
sentimento de perda e consideração a uma pessoa “querida” que partiu desta para
outra.
Eu tive um
professor de inglês que certa vez me disse algo que nunca esqueci. O mestre era
inteligente, sincero, polêmico, crítico e às vezes arrogante, mal-educado e
duro com as pessoas com as quais convivia. Parece até que carregava consigo uma
frustração e revolta constante, perdia a calma com muita facilidade era um
indivíduo difícil de relacionamento com pontos de vista contrários ao senso comum
o que fazia com que muitos alunos não concordassem com suas ideias polemicas,
mas a sua pureza e realismo me impressionavam.
O pai
deste professor faleceu no período em que eu estudava com ele. Logo apareceram
os amigos, vizinhos e desconhecidos para prestar as condolências aos familiares
durante o velório.
Eu estava
na casa do professor quando chegou um cidadão choroso com lágrimas de crocodilo
nos olhos, óculos escuros para encobrir o fingimento e tudo mais que ocorre
nestas horas. E num daqueles relances de pureza misturada com tristeza pela
irreparável perda do pai o professor disse: “É tudo falsidade. Familiares,
vizinhos que nunca nos visitaram enquanto meu pai estava saudável e depois que
adoeceu, sequer falavam bom dia e boa noite hoje trazem flores para o morto,
agora nada mais importa. ”
“Que nunca
se perca o bonito costume de dar bons dias e boas noites. Mesmo que os
mal-educados não nos respondam. ” (Autor desconhecido)
Voltei a
lembrar deste assunto quando há alguns meses soube do falecimento de um amigo
de trabalho que doou a vida pela empresa onde trabalhou durante anos até a
aposentadoria numa incansável e frenética busca para atender às demandas de
produção.
Adoeceu,
sofreu sozinho no leito de um hospital esquecido por todos, por fim sucumbiu
diante do sofrimento, sem o apoio dos amigos. Após deixar a empresa foi
esquecido como a maioria, passaram-se aniversários e nunca recebeu uma flor de
presente, nenhum reconhecimento por mais de 30 anos de trabalho árduo,
dedicação e comprometimento.
Quando
concluía a publicação desta crônica recebi a informação de que um policial
militar do maranhão, tio de um colega de trabalho foi alvejado por bandidos no
bairro do Maiobão, ao ser reconhecido como policial durante um assalto.
Uma amiga
comentou comigo que estava sem ânimo para o trabalho devido à repentina perda
de uma grande amiga. Logo pensei: Quantas pessoas estarão hoje ao lado dos
familiares destes, quando em vida não os visitavam, reconheciam ou valorizavam?
“E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!” (Cecília Meireles)
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!” (Cecília Meireles)
No velório
tristeza, óculos escuros, hipocrisia e um buquê de flores com os dizeres: “Com
carinho, uma homenagem da família (sobrenome)”; “Sinceras condolências dos
diretores e colaboradores da (nome da empresa)”; “Sentimentos dos amigos”; “Com
carinho, sinceros sentimentos dos colegas”; “Sentimentos aos familiares”;
“Condolências aos amigos e parentes”; “Sinceras condolências de toda a
família”; “Com carinho, uma homenagem da família”; “Foi uma honra contar com
sua amizade”; “Você sempre estará presente em nossos corações”; “Obrigado por
fazer parte de nossas vidas”.
O que
seria presente de aniversário foi deixado para o ato final e perdeu o
significado, assim, foi aquele buquê de flores sem perfume oferecido aos
familiares do falecido. Sequer conheciam os curiosos que apareceram ao funeral
para entregar a lembrança sem sentido para os enlutados, muito menos ao morto.
Enquanto vivo não recebeu visita e consideração dos “amigos” reaparecem após a morte.
“Costumamos
dizer que amigos de verdade são os que estão ao seu lado em momentos difíceis,
mas não! Amigos verdadeiros são os que suportam a tua felicidade! Porque em
momento difícil qualquer um se aproxima de você. Mas o seu inimigo jamais
suportaria a sua felicidade! “ (Pe. Fabio de Melo)
O carinho
e atenção que nunca recebemos em vida não serão compensados após a morte com um
buquê de flores sobre o ataúde.
Não me
deem flores de presente em vida nem em morte. Gosto das flores nas árvores e
arbustos naturais. Bouquet de flores me remetem à falsidade com aqueles que
passaram a vida esquecidos e lembrados quando mortos.
Preste
atenção nas pessoas que não te aplaudem quando você vence, porque poderão ser
as primeiras a te ligarem quando você está doente aguardando a sua morte para
levarem flores aos familiares.
O banquete
de flores atrasado. Deveria ter sido servido em vida. Não deixe para enviar
depois o buquê de flores para a família dos amigos, ex-empregados, colegas...
Flores póstumas não ampliam ou fortalecem amizades e laços fraternais, não
engrandecem os vivos, não levam a lugar nenhum.
Em vez de
flores póstumas plante sementes de amizade e esteja próximo às pessoas que você
ama enquanto vivas. Valorize e reconheça os amigos que estão ao seu lado
enquanto há tempo. Amanhã poderá ser tarde demais!
Aquele buquê
de flores sem perfume lançado sobre a tumba não será lembrado. Aquela pequena
flor perfumada entregue em vida nunca será esquecida por aqueles que apreciam
flores. Plante as sementes, aprecie a beleza das flores e colha os frutos em
vida!
“Se não
houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra
das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente. ” (Henfil)
Eu prefiro
as flores no campo ou regadas nos jardins, rodeadas por folhas amparadas por
galhos, suportados por caules firmes e com raízes profundas no solo, em vez de
um buquê de flores póstumas.
“As flores refletem bem o que
é o amor.
Quem deseja possuir uma flor, irá vê-la murchar.
Mas quem olhar uma flor no campo, terá esta beleza para sempre.” (Paulo Coelho)
Quem deseja possuir uma flor, irá vê-la murchar.
Mas quem olhar uma flor no campo, terá esta beleza para sempre.” (Paulo Coelho)
José Carlos Castro Sanches
É químico, professor, escritor,
cronista e poeta maranhense.
Membro Efetivo da Academia
Luminense de Letras – ALPL
São
Luís, 08 de agosto de 2018.
Visite o site falasanches.com e
página Fala, Sanches (Facebook) e conheça o nosso trabalho.
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NOTA: Esta obra é original do
autor José Carlos Castro Sanches, com crédito aos autores e fontes citadas, e
está licenciada com a licença JCS08.08.2018. Você pode copiar, distribuir,
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fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. Esta
medida fez-se necessária porque ocorreu plágio de algumas crônicas do autor,
por outra pessoa que queria assumir a autoria da sua obra, sem a devida
permissão – contrariando o direito à propriedade intelectual amparado pela lei
nº 9.610/98 que confere ao autor Direitos patrimoniais e morais da sua obra.
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